O terceiro Amor

Foi no Inverno de 2004 que conheci meu terceiro amor
É Arnaldo, o tempo passa rápido, já faz uma década.
Um show de Rock 'n Roll na Av. Vilarinho e lá estávamos eu, Pulguinha e Manfredo
O vinho combinava com a noite, e numa roda de prosa eu percebi que ali havia um rapaz.
Rapaz notável, não somente pelos cabelos esvoaçantes mas por falar de Zaratustra e tocar flauta de bambu
O vento frio cortava a conversa, e já era hora de partir para a carruagem não virar abóbora
Uni as mãos geladas aquecendo uma na outra e anunciei a partida!
Foi quando ele de repente, não mais que de repente disse:
" Me dê sua mão para que eu coloque ela num lugar bem quentinho!"
Eu sorri e lhe dei a mão, e ele a colocou atrás de seus joelhos.
Passei meses sem voltar a vê-lo, mas a lembrança dele insistentemente me perseguia
Procurei por ele, mas ele não tinha telefone e morava no meio do mato.
O acaso nos proporcionou um reencontro e foi como se estivéssemos sempre a procura um do outro.
Foi tudo tão intenso, e ao mesmo tempo tão fugaz
Eu não conseguia ficar distante dele.
Freud explicaria, a atração por um homem delicado, artesão e matuto
Tomamos banho de chuva sem roupa ( a localização ajudava)
Dormimos olhando as estrelas
Acampamos na serra do cipó
Assisti a festa dos mascarados de Jaboticatubas
Conhecemos São Tomé das Letras
Fizemos um pacto de cuspe
Com ele eu ví o mar pela primeira vez
Com ele eu dividi um teto
Com ele eu tive um filho em 2006
E uma filha em 2007
Nos separamos em 2008.
Talvez  seja esse o amor mais difícil de escrever, pois envolve vidas
Esse é o desafio.
Esse não tem o humor irônico que envolve os outros poemas
Não é aquele amor que precisa de objetos guardados para ser lembrado
Basta olhar para meus filhos, nos genes que herdaram
Investir uma vida em um relacionamento cria, é claro, a expectativa de que ele seja duradouro e que dê frutos
Amar é querer construir algo juntos.
Nada pior do que a dor da desilusão.
É difícil explicar para o coração de que não compensa amar alguém que te faça sofrer
Mas o tempo ajeita as coisas no lugar e liberta o coração do rancor do que poderia ter sido e não foi.

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