Coletivo

De manhã antigos viciados param na roleta  para vender suas canetinhas e contam suas histórias que parecem as mesmas.
Durante o almoço os famintos circulam pelas calçadas observando possíveis bons corações.
A tarde os vendedores de balas entram pela porta de trás graças a bondade ou ao medo dos motoristas.
A noite, quando toda dor é mais latente, todos saímos para aliviar a inquietação, mantenho observando tantos infortúnios nos olhos cansados daqueles que pedem.
Eu os atraio, como quem se solidariza com suas condições, como quem lamenta por não ter sido diferente, como quem acredita em todas as histórias.
Quando, eu há alguns anos fui assaltada por um jovem de 15, não consegui sentir ódio quando o vi logo depois de ser pêgo. Eu só pensava que tinha sido um bebê, todos já fomos. Teria ele sido profundamente desejado para chegar a esse mundo? Que voltas a vida deu? Que voltas a vida dá para nos levar ao nosso caminho?

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