Treze dias, treze anos

Pouca dilatação, cesariana! Pôr do sol, cheiro de placenta, 49 cm, 3.851 kg e muito cabelo, isso explicava a azia. Meu bebê não chorou logo de início, mas eu sim! Eu tinha 19 anos e não sabia o que estava acontecendo exatamente, meu bebê já tinha saído do quarto e eu continuava a ser costurada. Mas tudo bem até aí, durante três dias no hospital, meu pequeno estava comigo e eu pude aproveitar cada detalhe daquele menino que acabava de nascer, eu começava a experimentar do melhor amor do mundo. Tive alta, fui pra casa da minha mãe, mas não dei conta de ficar lá e logo quiz ir para a minha casa. Sentia algumas dores, mas acreditava que estava tudo dentro normalidade, até que, numa tarde, ao receber a visita de uma amiga, ela percebeu que eu estava quente e febril. No final desse dia eu estava novamente no hospital e lá permaneci por mais longos 13 dias, sem meu filho. O diagnóstico não saiu de primeira, minhas dores e dificuldade para respirar aumentavam, ninguém falava o que estava acontecendo comigo. Na troca de plantão dos médicos, um deles disse: " a próxima vaga no UTI é dela". Maior do que as dores que pareciam facadas nas costas, era a dor do abandono. Sempre fui sentimental, mas sem meu filho e o pai dele comigo naquele momento, eu perdia a vontade de viver. Tudo bem que eu não podia receber o Miguel recém nascido, as chances de infecção hospitalar eram evidentes, mas eu esperava pelo homem que eu acreditava ser meu companheiro, pelo pai do meu filho, e ele não foi. Foram as piores sete noites da minha vida no UTI, lá eu era a única que não estava em coma, e a cada dia saía um, não sabia se era por morte ou por melhora. A minha febre não passava, meus seios estavam empedrecidos pelo leite que eu não amamentava, não podia doar o leite em função da quantidade de remédios que estava tomando. Assim, com duas enfermeiras nada sensíveis, uma em cada seio, vivenciei o que chamei de "rito da ordenha". Foi necessário! Sem leite, sem febre. A infeção estava sendo controlada, pneumonia pós parto, medo, água na pleura, solidão e tristeza. Hoje eu entendo que o que eu tive foi depressão pós parto. Hoje eu compreendo o emaranhado de sentimentos, a complexidade do parir, em todas as suas fases. Só sai da fossa, quando ouvi duras belas palavras de uma senhora, companheira de quarto, que vendo minha situação me ajudou muito, me levando para os rolés no berçário do hospital, para ver todos os bebês recém nascidos e lembrar que o meu estava a minha espera. Miguel hoje tem treze anos!

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