Adeus Amor
Tenho dificuldade de dizer adeus!
O eterno, o transcendental fala muito daquilo que eu
acredito ser divino.
Aqui estou para dizer adeus ao filho que não tivemos.
Deixo meu adeus ao quarto que nunca foi nosso, à briga romântica
que nunca tivemos por causa do ventilador.
Digo adeus aos planos de irmos morar em Aruba junto com seu irmão.
Enterro toda a idealização do meu amor na minha festa de
15 anos, pela qual esperei anos para que acontecesse, pois ela seria nossa
carta de alforria.
Digo adeus a dor física de uma surra, que nem foi tão grande
se comparada a perder você.
Vou tatuar por cima das cicatrizes para dar um novo
significado para as marcas.
Adeus a espera da nossa primeira noite juntos, como sonhei
ter feito amor com você, pelo menos uma vez nessa vida.
Adeus ao ressentimento de pensar nas bocas amigas que você
beijou, eu achava que vocês sabiam o quanto eu te amava naquela época.
Adeus ao cheiro de Kaiak que me perseguia, pois era
impossível não pensar em você quando sentia esse perfume na rua.
Adeus aos fios dos seus lindos cabelos longos, negros e esvoaçantes
que passeavam numa bicicleta retrô pela rua em que eu morava.
Adeus às belas mãos de dedos compridos, que pintavam muros e
desenhavam cartas de amor para mim.
Adeus ao primeiro amor que eu pensei que seria eterno.
Adeus ao homem que invisivelmente frequentou meus sonhos por
20 anos, me assombrando por eu não conseguir chegar ao final da Av. Waldomiro
Barrel e atravessar a BR para vê-lo.
Adeus ao homem que foi incapaz de me ver, quando eu voltei à
cidade justamente para encontrá-lo.
Adeus à mágoa por meu pai ter sido mais um obstáculo.
Adeus ao homem que se casou com a mulher com quem me traiu.
Adeus à culpa por tudo que fui sem querer ser.
Adeus à tudo que não foi possível ser.
Adeus às falsas sessões de terapia, hoje elas são reais e profissionalmente
eficazes.
Adeus à necessidade de afirmação, ao medo de computar mais
uma desilusão.
Agora a menina Patrícia segue a rua, passa pela casa da
Gisele, pelo restaurante, vê a casa da Maíse, segue em frente, atravessa a BR,
passa pela farmácia, segue a rua até a pracinha, lá pega a terceira saída à
direita e chega à rua São Sebastião;
caminha nela, passa pela casa do Ney e chega a casa do Dizim, bate palmas, ele
atende, se olham nos olhos e ela diz: Adeus Valdir.
Fim!
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