Um tombo gigante

Não estavam prontos,
eram dois perdidos a procura de alguma coisa.
Qualquer coisa, que preenchesse e que pudesse ser chamada de amor.
E quando estariam prontos?
Poderíamos dizer que estavam perto ou que jamais estariam.
Tudo depende do ponto de vista de quem estaria contando a história.
Mais do que o desejo do outro, estava o egoísmo primário em satisfazer as próprias vontades.
Moldar o outro à sua maneira era a melhor forma de afirmação, para ambos.
O caminho para as respostas era cansativo, clichê e careta.
Ela fugia aos argumentos teóricos de um homem que conviveu por 7 anos com uma psicóloga e achava que tinha obtido o diploma de tabela.
Ela sabia que suas intenções eram boas, mas quando Pedro fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo.
Eram dois loucos sistemáticos.
Eram irritantemente felizes embriagados,
mas inevitavelmente esforçados na lucidez.
Ambos com suas manias, seus hábitos de uma vida inteira,
tentando se ajustarem às rotinas um do outro.
Ela sempre fora sozinha, e por falta de opção, aprendeu a duras penas a cuidar do outro e esquecer de sí mesma.
Quando ela se sentia ameaçada, era inevitável a tentativa de antecipar-se para evitar o pior, tinha mania de controle não pela manipulação, mas pelo medo de um novo fim.
Ele tão orgulhoso, aberto para o melhor abraço do mundo e tão fechado para falar o que travava seu coração.
Será que eram as perdas do pai e do irmão? Ou um trauma de infância que ele nunca contou para ela?
As mulheres tem mais facilidade de falar de si.
Ela o viu chorar algumas vezes com as histórias que ele trancava no peito.
Ela viu a forma doce e rude que ele tinha para demonstrar amor e se reconheceu assim também.
Tinham peças quebradas e achavam que poderiam encaixá-las.
A vontade era enorme, diríamos gigante!
A procura de ambos se arrastava há anos e quanto mais velha ficava a certidão de nascimento, mais o desespero comedido saltavam-lhes nos olhos.
Fizeram tudo tão depressa, mergulharam nos desejos ilusórios de se completarem e se anularam...
Arriscaram muitas tentativas de recomeços, duelos idiotas para aplicarem lições, cartões vermelho e aprendizados constantes.
E graças ao diploma de tabela dele, tanto criticado por ela, ele deu-lhe uma chave para abrir uma porta.
Os olhos do outro será sempre do outro, e por mais que você tente se colocar no lugar dele, nunca serão os seus!
Ela passou pela porta e nunca mais voltou.

Comentários

Pedro Barboza disse…
Um tombo nem sempre é para cair, as vezes é para levantar . . .
Passar pela porta nem sempre é um Adeus . . . pode ser um até breve . . .
Patricia Alhures disse…
Sim Pedro, a vida tem inúmeras possibilidades.
Seu comentário me fez lembrar de um trecho de uma música do Raul Seixas: "...Assim como todas as portas são diferentes, aparentemente todos os caminhos são diferentes. Mas vão dar todos no mesmo lugar..."
Obrigada pela visita, volte sempre!